No poço profundo, de concreto e escuridão, Há uma torre de desejos, fome e ambição. Uma plataforma desce, repleta de manjar, Mas quem está embaixo mal consegue olhar. Os de cima comem, banquete sem fim, Os de baixo aguardam, um futuro tão ruim. Na boca, a esperança se torna cruel, Pois no poço, até o sonho tem gosto de fel. No topo, abundância, um luxo sem medida, Mas o excesso de uns é a falta da vida. A comida, que poderia a todos salvar, É devorada com pressa, sem nunca sobrar. Desce o alimento, com presságios sombrios, E a cada andar, mais ecoam os vazios. A fome que cresce, a sede que arde, Cada andar é um passo rumo ao covarde. Solidariedade? Um mito sem voz, No poço, cada um está por si, está a sós. Mas entre o caos, uma faísca de união, Surge o desejo de quebrar essa prisão. O sacrifício ecoa no espaço fechado, Entre a escolha de morrer ou viver lado a lado. E assim, no poço, há quem queira lutar, Para que, um dia, o último também possa jantar. No fundo, o poço é um espelho cruel, Do que somos quando o mundo vira um véu. Será que podemos juntos mudar? Ou o poço em nós nunca deixará de se alimentar?