Data desconhecida. Talvez isso nem importe mais.As paredes... ah, as malditas paredes. Elas respiram, sabia? Sinto o cheiro delas, esse mofo que se enraíza nos pulmões. Há anos que não vejo o sol direito. Será que ainda existe? Ou será que a floresta o devorou também? Nunca soube direito onde estamos... no meio das árvores, me disseram. Mas eu sei. Eu sei o que elas escondem.Os outros... eles fugiram. Não voltaram. Sumiram na escuridão como fantasmas. E eu? Eu fico aqui, rabiscando. Última coisa que farei antes de ir.Os corredores... tão imundos quanto nós, os prisioneiros. Nem a água era limpa, se é que isso era água de verdade. Ratos passeavam como reis, enquanto nós, os condenados, rastejávamos por migalhas de pão velho, se é que era pão. Doença por todo lado, a pele coça, a carne se abre e o cheiro... Deus, o cheiro.Mas hoje... hoje é o dia. Eu vi. As portas estão abertas. Eles esqueceram de trancar. Ou talvez tenham desistido de nós, como sempre fizeram. Talvez saibam que, lá fora, há algo ainda pior que essas paredes sufocantes.Eu vou. Não sei para onde, mas para longe daqui. As árvores chamam meu nome, sussurram coisas que não entendo, mas vou segui-las. O que há pior do que o inferno que já conheci?Se alguém encontrar isso, saiba: não há cura para os que foram esquecidos. Não há volta. Mas há liberdade. Mesmo que seja no fim do mundo, na escuridão das árvores.Adeus.(Assinatura ilegível, manchada de sujeira e sangue seco)