Ycaro sobe, mais alto que o sol, As asas brilham num dourado farol. Mas quanto mais perto do céu ele chega, Mais seu destino, em silêncio, se entrega.O ar pesa, o calor o abraça, E o orgulho em seu peito arde e ameaça. Ele voa tão alto, sem olhar para trás, Mas o céu, que acolhe, também desfaz.O sol, invejoso, queima sem dó, As penas se soltam, o voo perde o nó. Ycaro, outrora senhor do ar, Agora sente o frio da queda chegar.O vento que antes o erguia com fé, Agora é silêncio, é morte, é maré. Ele despenca, sem rumo ou controle, A ganância foi sua bússola, seu escolho.A queda é longa, um eco sem fim, Cada volta no ar é um lamento em si. O céu, tão distante, já não o abraça, E a terra, que esperava, o recebe sem graça.Ele cai, mas não só o corpo desce, A alma de Ycaro também se encolhe, padece. No fim, ele aprende o peso do querer, Que quem busca demais, às vezes só pode perder.E assim, na queda, ele encontra a verdade, O voo não é eterno, sem humildade. Ycaro cai, mas no chão se refaz, Pois voar sem limites custa alto demais.